O Retrato de Dorian Gray (2009) Livro Versus Filme
- Vinicius Monteiro
- há 2 dias
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Atualizado: há 21 horas
A obra literária de Oscar Wilde, publicada em 1890, mergulha nas profundezas da alma humana, explorando temas como vaidade, hedonismo e a busca pela beleza eterna. A prosa elegante e aforística de Wilde tecem uma teia de sedução e corrupção, à medida que Dorian Gray se entrega aos prazeres mundanos, enquanto seu retrato se torna um reflexo grotesco de sua deterioração moral. A personagem de Lord Henry Wotton, com sua filosofia niilista, exerce uma influência nefasta sobre o jovem Dorian.
O filme de 2009, dirigido por Oliver Parker, oferece uma interpretação visualmente exuberante e sombria da clássica história de Oscar Wilde. Ben Barnes entrega uma performance cativante como Dorian Gray, um jovem aristocrata que busca a eterna juventude. A atmosfera gótica e a trilha sonora envolvente intensificam a decadência moral do protagonista, enquanto o retrato que envelhece em seu lugar serve como um espelho de seus pecados.
Embora ambas as obras compartilhem a premissa central, o filme de Parker toma algumas liberdades criativas. No entanto, ambas as obras capturam a essência da advertência moral de Wilde: a busca desenfreada pela beleza e prazeres efêmeros leva à ruína da alma. Para aqueles que desejam explorar as nuances da história de Dorian Gray, tanto o livro quanto o filme, a seguir o leitor conhecerá algumas diferenças entre as obras de "O Retrato de Dorian Gray".
O livro foi publicado em 1891 e sua ambientação reflete a sociedade vitoriana da época. A história se passa na Londres do século XIX, onde a aristocracia e a busca pela beleza e juventude eram temas centrais. Já o filme de 2009, dirigido por Oliver Parker, mantém a ambientação vitoriana, mas traz uma abordagem mais moderna e explícita em relação aos temas de decadência e corrupção moral.
No filme, Dorian Gray se apaixona pela filha de Lord Henry, Emily Wotton, uma personagem que não existe no livro. O filme enfatiza uma subtrama romântica entre Dorian e Emily, que adiciona uma nova dimensão ao personagem e às motivações de Dorian.
No romance original, a personagem Sybil Vane é uma jovem atriz talentosa e idealista, que se apaixona por Dorian Gray e vê nele um símbolo de perfeição e amor verdadeiro. No entanto, após Dorian rejeitá-la cruelmente, ela tira a própria vida, o que marca um dos primeiros sinais da corrupção moral do protagonista. Já na adaptação cinematográfica, Sybil é retratada de forma um pouco diferente. O filme enfatiza mais a superficialidade do relacionamento entre ela e Dorian, tornando sua tragédia menos impactante do que no livro. Além disso, a profundidade emocional e a idealização romântica que Sybil tem no romance são menos exploradas na versão cinematográfica, o que altera a maneira como sua morte afeta Dorian e sua jornada de decadência.
No livro, Oscar Wilde sugere uma relação homoerótica entre Dorian Gray e Lord Henry Wotton de forma sutil e implícita. A influência de Lord Henry sobre Dorian é intensa, com diálogos carregados de admiração e manipulação emocional. Wilde, vivendo em uma época de repressão à homossexualidade, usou linguagem ambígua para explorar temas de desejo e poder sem confrontar diretamente as normas sociais da época. Já no filme de 2009, dirigido por Oliver Parker, a relação entre Dorian e Lord Henry é retratada de maneira mais explícita, mas ainda não chega a ser completamente desenvolvida como uma relação homoafetiva.
O filme também inclui cenas mais explícitas do estilo de vida hedonista de Dorian, que estão apenas implícitas no romance.
No romance original, Lord Henry é um aristocrata cínico e hedonista, que exerce uma influência profunda sobre Dorian Gray. Ele é um mestre da ironia e do sarcasmo, sempre proferindo frases memoráveis sobre a natureza humana e a busca pelo prazer. Sua filosofia de vida é baseada no esteticismo e na rejeição da moralidade convencional, mas ele nunca se envolve diretamente nos atos de corrupção de Dorian—ele apenas planta as ideias que levam o jovem a sua decadência. Já na adaptação cinematográfica, Lord Henry, é mais um vilão estereotipado que tem uma presença mais sombria e manipuladora. O filme enfatiza sua influência sobre Dorian de maneira mais explícita, tornando-o quase um mentor ativo na degradação do protagonista. Além disso, a relação entre os dois é retratada com um tom mais intenso e psicológico, dando a Lord Henry um papel mais direto na transformação de Dorian. A adaptação também adiciona elementos dramáticos que não estão no livro, tornando sua figura menos ambígua e mais claramente responsável pela corrupção de Dorian.
O romance tem um tom mais filosófico e introspectivo, enquanto o filme é mais orientado para a ação e suspense.
O filme retrata a transformação e a decadência moral de Dorian de forma mais visual, usando efeitos especiais para mostrar a corrupção do retrato. No romance, a descida de Dorian à imoralidade é gradual e complexa. No filme, ele se torna um vilão mais rapidamente e sem muitas nuances.
No livro, o quadro é um elemento central e simbólico da narrativa. Ele representa a alma de Dorian, absorvendo sua corrupção e envelhecimento enquanto permanece jovem e belo. A transformação do retrato ao longo da história é descrita de maneira gradual e psicológica, refletindo os pecados e a decadência moral do protagonista de forma sutil e aterrorizante. Já no filme de 2009, o retrato é retratado de maneira mais explícita e visualmente impactante. A adaptação enfatiza os efeitos sobrenaturais da pintura, tornando sua deterioração mais grotesca e exagerada. Além disso, o filme adiciona cenas em que o quadro parece ter uma presença quase viva, reforçando o aspecto de horror da história. Essa abordagem cinematográfica difere do livro, que trabalha mais com a sugestão e o impacto psicológico da transformação do retrato.
No livro, Dorian, atormentado pela culpa e pelo peso de seus pecados, decide destruir o quadro que carrega sua corrupção. Ao esfaquear a pintura, ele acaba matando a si mesmo. Quando seus criados entram no quarto, encontram um homem velho e deformado morto no chão, enquanto o retrato recupera sua beleza original. Esse desfecho reforça a ideia de que Dorian não pode escapar das consequências de seus atos e que sua alma estava irrevogavelmente corrompida. Já no filme, o final é mais dramático e visualmente impactante. Dorian tenta fugir de sua maldição, mas é confrontado por Lord Henry. Em um momento de desespero, ele destrói o quadro, mas antes disso, há uma cena de confronto que não existe no livro. O filme enfatiza mais a ação e o horror, tornando o desfecho mais cinematográfico e menos filosófico do que na obra original
Enquanto o romance se aprofunda em temas de esteticismo, moralidade e a natureza da alma, o filme se concentra mais nos elementos de terror e fantasia. O tom do filme é mais sombrio e gótico em comparação com a abordagem mais filosófica e satírica do romance.
A adaptação cinematográfica de 2009 de Dorian Gray difere significativamente do romance original de Oscar Wilde. Essas mudanças tornam o filme uma interpretação distinta do trabalho de Wilde, oferecendo uma experiência diferente, mantendo a história central da trágica busca de Dorian Gray pela juventude eterna.
No geral, a adaptação cinematográfica de 2009 de "O Retrato de Dorian Gray" toma liberdades significativas com o material de origem, concentrando-se nos elementos sobrenaturais e aspectos de terror, em vez dos temas psicológicos e filosóficos explorados no romance. Embora o filme seja visualmente impressionante e ofereça uma interpretação única da história, ele se afasta significativamente da visão original de Wilde.
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