O Retrato de Dorian Gray Vale a Pena Ler?
- Vinicius Monteiro
- 13 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: há 2 dias
Cansado de histórias previsíveis? Buscando uma leitura que te faça questionar os limites da moralidade e da obsessão pela juventude? Então, prepare-se para ser seduzido pela aura sombria e hipnotizante de "O Retrato de Dorian Gray". Imagine um jovem de beleza angelical, capaz de despertar inveja e desejo, que faz um pacto sombrio para que sua juventude permaneça intacta, enquanto um retrato seu carrega o peso de seus pecados e do envelhecimento. Se a ideia de mergulhar nessa atmosfera decadente e intrigante te atrai, continue. A jornada pela alma de Dorian Gray pode perturbar suas convicções mais profundas.
Publicado em sua forma original em 1890, o único romance de Oscar Wilde nasceu sob o signo da controvérsia. Censurado em sua primeira aparição por considerarem seu conteúdo "indecente" para a sociedade vitoriana, "O Retrato de Dorian Gray" é, desde sua concepção, uma obra que desafia os limites. A indignação de Wilde o levou a expandir e revisar a história, lançando a versão que conhecemos hoje. Apesar de sua inegável qualidade literária, o livro enfrentou uma recepção hostil em seu tempo, sendo aclamado como um clássico apenas postumamente. Essa trajetória turbulenta já nos indica que estamos diante de uma obra que não teme confrontar as convenções.
A obsessão pela beleza e a superficialidade das aparências são as engrenagens centrais que movem a trama de "O Retrato de Dorian Gray". Longe de ser a "ficção depravada" que seus críticos vociferavam, o livro se revela uma parábola mordaz e irônica sobre o culto à beleza efêmera. Wilde nos transporta para a opulenta e exclusiva elite londrina do final do século XIX, descrevendo com maestria os cenários suntuosos e os rituais de uma classe absorta em sua própria elegância vazia.
A forma como Wilde estabelece os contrastes entre seus personagens, especialmente a evolução de Dorian Gray, é um dos pontos altos da narrativa. Inicialmente um jovem inocente e vulnerável, Dorian se transforma em um ser confiante e amoral à medida que se entrega a seus desejos mais obscuros, enquanto seu retrato se torna o espelho horrendo de sua alma corrompida. Essa progressão psicológica, construída com sutileza e profundidade, nos força a confrontar a natureza da beleza, da moralidade e das consequências de nossas escolhas.
O humor ácido e os epigramas espirituosos de Lord Henry Wotton permeiam a obra, oferecendo momentos de deleite intelectual. No entanto, confesso que a torrente incessante de aforismos pode, em alguns momentos, tornar a leitura um pouco monótona. Apesar disso, a prosa elegante e acessível de Wilde, aliada à riqueza da narração, culmina em cenas de intensidade dramática memorável.
Em suma, "O Retrato de Dorian Gray" se mostrou uma leitura surpreendente e impactante. Ao explorar uma questão atemporal e profundamente humana, Oscar Wilde nos legou uma obra-prima literária que, por sua beleza sombria, sua profundidade psicológica e sua ousadia em desafiar as normas de sua época, merece o status de clássico que conquistou. Se você busca uma leitura que te faça refletir sobre a natureza da beleza, a corrupção da alma e as escolhas que moldam nosso destino, então sim, mergulhe sem hesitar nas páginas de "O Retrato de Dorian Gray". É uma jornada perturbadora, fascinante e inesquecível pela alma humana.
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