O Retrato de Dorian Gray (2009) Vale a Pena Assistir?
- Vinicius Monteiro
- 19 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: há 2 dias

Imagine a juventude eterna aprisionada em um retrato, enquanto a alma se corrompe em segredo. "O Retrato de Dorian Gray" retorna às telas sob a lente ousada de Oliver Parker, disposto a nos mostrar a decadência em sua forma mais visceral. Mas será que essa releitura moderna honra a obra de Oscar Wilde ou se perde em uma busca por chocar a qualquer custo?
Na Londres efervescente da virada do século XX, o jovem e belo Dorian Gray (Ben Barnes) é introduzido aos prazeres hedonistas da alta sociedade por Lord Henry Wotton (um sagaz Colin Firth). Cativado por sua beleza efêmera, o pintor Basil Hallward (Ben Chaplin) decide imortalizá-la em um retrato. Contemplando a obra, Dorian, em um ato de vaidade impetuosa, deseja que a imagem permaneça eternamente jovem, oferecendo sua própria alma em troca. A partir desse instante, uma estranha metamorfose se instala: enquanto Dorian permanece intocado pelo tempo e pelos excessos, cada pecado e cada ano marcam o retrato com grotescas deformidades, um espelho horrendo de sua degeneração moral, que ele decide esconder nas profundezas de seu sótão.
Uma das obras mais celebradas da literatura ganha mais uma adaptação cinematográfica, desta vez sob a direção do britânico Oliver Parker, que se propõe a uma reinterpretação visceral e ousada do clássico de Oscar Wilde.
A trilha sonora primorosa intensifica a atmosfera de mistério que permeia a película, enquanto a direção de Parker acentua o aspecto visceral da narrativa, desde os traços densos da pintura de Hallward até as frequentes incursões de Dorian nos domínios da sensualidade crua e desinibida.
Diferentemente da adaptação de 1945, que reservava a revelação da pintura corrompida para o clímax, a versão de Parker utiliza extensivamente o CGI para dar vida, de forma grotesca e explícita, à deterioração interior de Dorian a cada transgressão moral. Vermes contorcendo-se em feridas purulentas animam o retrato, em uma representação visual impactante da degeneração do protagonista.
No que tange à fidelidade à obra original, esta adaptação não é a mais precisa, mas inegavelmente figura entre as mais divertidas e provocativas. O roteiro de Toby Finlay ousa em uma sutil alteração temporal, deslocando o epílogo para o início dos anos 1920. A reconstituição da Londres da época é impecável em detalhes e ambientação, carregada de mistério, vislumbres de violência, explorações da sexualidade e nudez.
O filme expande os limites da narrativa original, inserindo flashbacks da infância brutalizada de Dorian, representando graficamente assassinatos, insinuando sadomasoquismo, explorando encontros homossexuais e, talvez de forma mais chocante, apresentando uma sequência de relações sexuais transgressoras com uma jovem debutante e, subsequentemente, com a própria mãe da moça, enquanto a filha se esconde sob a cama, em uma cena de depravação explícita.
A atuação magnânima de Colin Firth eleva a qualidade da produção, conferindo profundidade e nuances a Lord Henry Wotton. Oliver Parker demonstra domínio tanto nos diálogos afiados de Wilde quanto na construção de uma atmosfera carregada de suspense e tensão. Embora se afaste consideravelmente da essência do original literário, essa liberdade criativa busca atualizar a narrativa para um público contemporâneo, talvez saturado de representações mais sutis, oferecendo uma visão genuinamente decadente e perturbadora.
Em última análise, "O Retrato de Dorian Gray" de Oliver Parker não é uma adaptação fiel para os puristas da obra de Wilde. No entanto, para um público adulto em busca de uma experiência cinematográfica visceral, ousada e provocativa, o filme oferece uma reinterpretação moderna que explora a decadência moral com uma estética impactante e performances sólidas, especialmente a de Colin Firth. Se você está aberto a uma abordagem mais explícita e a uma atualização da narrativa para um contexto contemporâneo, buscando uma reflexão sobre a vaidade e a corrupção da alma com uma roupagem chocante, então vale a pena se deixar levar por esta visão sombria e perturbadora do clássico literário.
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