O que Ficou para Trás Crítica Cinematográfica
- Vinicius Monteiro
- 11 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de dez. de 2024

★★★★☆
Um casal de refugiados faz uma fuga angustiante do Sudão do Sul, devastado pela guerra, lutando para se ajustar à sua nova vida em uma cidade inglesa. O que eles não contavam é que essa cidade possui um terrível mal escondido sob a superfície, esperando apenas o momento certo para ascender.
Com interpretações marcantes de Sope Dirisu e Wunmi Mosaku, que transmitem a angústia e a esperança de um casal diante do desmoronamento de seu casamento, somos levados a uma jornada emocional intensa. Em meio a circunstâncias surrealistas, eles se mudam para uma nova casa, um espaço que deveria simbolizar um recomeço. No entanto, a realidade daquela moradia – feia, suja e malcheirosa – contrasta com os sonhos que um dia nutriram.
A premissa de Remi Weekes demonstra uma sagacidade ímpar ao contornar uma questão fundamental do gênero: a razão pela qual os personagens insistem em permanecer em locais perigosos. Ao criar um sistema de regras draconianas, Weekes prende Bol e Rial à casa, transformando-a numa armadilha da qual parece não haver escapatória. Essa dinâmica intensifica o suspense, pois o espectador se questiona até quando a dupla resistirá às forças sobrenaturais que os cercam.
Dizem que a casa de um inglês é seu castelo. Para esse casal de imigrantes feridos e humilhados, sua casa se transformou em uma prisão. Ao pedir, com a mais educada das maneiras, por melhores condições de moradia, Bol e Rial se deparam com um muro de burocracia e hostilidade. A ironia é cruel: o imigrante "modelo" deve ser eternamente grato, mesmo quando as condições são indignas.
Remi Weekes, adaptando uma história de Felicity Evans e Toby Venables, utiliza o terror em "O que Ficou para Trás" para explorar os profundos traumas enfrentados por migrantes e refugiados. A obra retrata vividamente o deslocamento, o isolamento e a perda, além de denunciar a crueldade de políticas que exigem a assimilação sem oferecer oportunidades, aprisionando-os em um limbo existencial.
O maior problema do filme reside em seu tom inconsistente. A trama, que aborda temas complexos como trauma e passado, poderia ter se beneficiado de um gênero de terror mais inovador, em vez de recorrer a clichês. A sensação de perigo e a crescente tensão, elementos essenciais para um bom filme de terror, estão ausentes em diversos momentos.
A introdução de elementos sobrenaturais marca uma queda na qualidade narrativa do filme. A reviravolta final, embora intrigante, explora apenas superficialmente a psique de um dos personagens, despertando mais perguntas do que respostas.
A repetição das cenas de suspense sobrenatural acaba tornando-as previsíveis, desvalorizando o clímax. O verdadeiro interesse da trama reside na evolução da relação entre Bol e Rial, eclipsando a própria natureza da ameaça sobrenatural.
Os efeitos especiais são tão intensos que causam arrepios. A trilha sonora, com seus ruídos sinistros e gemidos, completa a experiência, transformando a casa em um pesadelo auditivo.
"O que Ficou para Trás" é mais persuasivamente aterrorizante quando sai de casa e entra no terror existencial da realidade. O terror existencial da vida de um refugiado é mais pungente do que qualquer ficção, revelando horrores que nenhum pesadelo poderia prever. A sensação de que o trauma nos persegue é constante, como um fantasma assombrando a casa da nossa mente. Ignorar essa presença só intensifica a dor, como batidas insistentes em uma porta que não podemos abrir.
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