O Pistoleiro Vale a Pena Ler?
- Vinicius Monteiro
- 5 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Se você já se pegou fascinado por anti-heróis complexos, por mundos à beira do abismo, onde a linha entre a sanidade e a loucura se esgarça, então preste atenção. "A Torre Negra: O Pistoleiro" não é um livro para leitores casuais. Ele te lança na poeira cósmica do Mundo Médio, nos calcanhares de Roland Deschain, o último de uma linhagem de pistoleiros lendários, obcecado por alcançar uma estrutura mítica que sustenta a própria realidade. A busca implacável de Roland pelo misterioso "homem de preto" é o fio condutor de uma narrativa que te fará questionar os limites da sanidade e a própria natureza do destino. Se a ideia de mergulhar em uma saga épica, onde a fronteira entre o real e o imaginário se dissolve, te atrai, continue. Mas esteja avisado: esta jornada pode te consumir.
Desde as torres babilônicas que almejavam os céus até a elegância inclinada de Pisa e a icônica estrutura de ferro de Eiffel, essas construções sempre exerceram um poder magnético sobre a nossa imaginação. Na literatura, Tolkien nos presenteou com "As Duas Torres", mas Stephen King nos convida a uma busca muito mais sombria e pessoal: a jornada de Roland Deschain em direção à enigmática Torre Negra. "O Pistoleiro" é o primeiro passo nessa épica caminhada, o portal para um universo vasto e intrincado que se desdobra ao longo de sete volumes. Ao nos apresentar a Roland, um personagem envolto em mistério e marcado por uma determinação inabalável, King planta em nós uma admiração imediata, uma curiosidade voraz sobre seu passado e seu destino. Essa conexão visceral com o protagonista é, por si só, um poderoso argumento para embarcar nesta leitura.
Contudo, é preciso reconhecer que "O Pistoleiro" se assemelha mais a uma abertura elaborada, um prólogo extenso para a grandiosa saga que se seguirá. A extensão relativamente curta do volume inicial pode deixar alguns leitores com uma sensação de incompletude, um anseio por maior profundidade narrativa imediata. King habilmente utiliza flashbacks para enriquecer a figura de Roland, desvendando as sombras que moldaram seu caráter e oferecendo respiros estratégicos na narrativa principal. Esses vislumbres do passado não apenas aprofundam nossa compreensão do pistoleiro, mas também mantêm o interesse aceso, como faíscas em uma fogueira que ainda está começando a arder.
Minha principal ressalva reside na percepção de uma escrita de King, neste ponto inicial de sua vasta obra, ainda em processo de lapidação. Senti uma certa falta de uma voz estilística plenamente definida, uma oscilação que pode incomodar alguns leitores. Outro ponto que merece atenção é a natureza indefinida do tom da obra. "O Pistoleiro" desafia categorizações genéricas, misturando elementos de terror, magia e fantasia de uma forma que pode não agradar a todos. No entanto, abordá-lo sob a lente da fantasia parece conferir uma maior coesão interna a essa miscelânea de elementos.
"O Pistoleiro" nos joga em meio à ação, sem um início ou fim convencionais, como um instantâneo crucial na vida de Roland. Embora reconheça o valor intrínseco da história, entendo que leitores em busca primordialmente de terror podem se sentir um tanto frustrados pela predominância de elementos fantásticos. Como o primeiro elo de uma longa corrente, o livro inevitavelmente deixa muitas perguntas sem respostas, oferecendo apenas uma introdução concisa a um universo que se expandirá nos volumes subsequentes, sem se aprofundar em explicações exaustivas.
Apesar de não o considerar a obra-prima da fantasia, acredito que vale a pena se aventurar em "A Torre Negra: O Pistoleiro". A força magnética de Roland e a promessa de um épico grandioso que se descortinará nos próximos livros são um investimento que pode te levar a uma das jornadas mais singulares e memoráveis da literatura fantástica. Se você busca algo além do comum, algo que te desafie e te intrigue, dê uma chance a Roland e comece sua caminhada rumo à Torre.
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