O Guia do Mochileiro das Galáxias Vale a Pena Assistir?
- Vinicius Monteiro
- 19 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: há 17 horas
Imagine ter sua casa demolida e, no mesmo instante, descobrir que seu melhor amigo é um alienígena e que o planeta Terra está prestes a virar poeira cósmica para dar lugar a uma autoestrada espacial. Parece insano? Bem-vindo ao universo de Douglas Adams, um lugar onde o absurdo reina e a lógica tira férias. Mas será que essa adaptação cinematográfica de "O Guia do Mochileiro das Galáxias" consegue capturar a genialidade caótica do autor ou nos deixará perdidos em um mar de nonsense?
Para aqueles que veneram a mente singular de Douglas Adams, a adaptação cinematográfica de sua magnum opus literária era aguardada com uma mistura de expectativa e apreensão. O autor britânico, cuja voz única se calou em 2001 enquanto trabalhava no roteiro deste filme, deixou um legado de humor peculiar, marcado por jogos de palavras intrincados, trocadilhos que desafiam o bom senso e uma incapacidade deliciosa de levar qualquer assunto excessivamente a sério.
O diretor Garth Jennings conseguiu, em grande medida, capturar essa essência da sensibilidade cômica de Adams. Os admiradores fervorosos dos livros originais provavelmente encontrarão satisfação nesta adaptação (embora minha própria jornada pela série literária não tenha me arrebatado completamente). Por outro lado, aqueles que se aventuram pela primeira vez no universo adamsiano poderão questionar a razão de tanto culto e a lógica subjacente aos eventos que se desenrolam na tela, sentindo-se como Arthur Dent diante da destruição de seu planeta.
"O Guia do Mochileiro das Galáxias", em sua transição para o cinema, herda a natureza episódica e as múltiplas digressões de sua trama original. Por vezes, torna-se difícil evitar a sensação de que o filme está sobrecarregado por uma miríade de subtramas e ideias dispersas, como se estivéssemos folheando as páginas do próprio Guia, saltando de um tópico aleatório para outro. A narrativa cinematográfica serpenteia por caminhos sinuosos até alcançar seu clímax, momento em que a comédia finalmente atinge um patamar mais consistente, embora a explosão de hilaridade plena nunca se concretize. Contudo, é inegável a presença de um elenco charmoso e inegavelmente talentoso, que se entrega aos seus papéis com uma convicção admirável diante do absurdo.
O que particularmente me manteve engajado nessa jornada intergaláctica foi, sem dúvida, o seu esplendor visual. Os efeitos especiais, praticamente onipresentes, são inventivos e divertidos, desde as duas cabeças (literalmente) distintas de Zaphod Beeblebrox até os repulsivos, porém impressionantemente concebidos, Vogons, criações da Jim Henson's Creature Shop. As sequências de animação que ilustram as informações do próprio Guia são particularmente inteligentes e criativas, adicionando uma camada extra de humor e informação ao caos cósmico.
Entretanto, a principal deficiência de "O Guia do Mochileiro das Galáxias" reside na notável ausência de um enredo claramente discernível. À medida que Ford e Arthur navegam pelo cosmos, infiltrando-se e sendo expulsos de uma sucessão de naves espaciais, as linhas narrativas se iniciam e se interrompem de maneira errática, como se o próprio filme estivesse seguindo as instruções aleatórias do Guia. Aqueles que apreciam uma certa organização lógica em suas narrativas poderão se sentir desorientados e frustrados nesta jornada caótica, enquanto outros, talvez, se entreguem sem reservas a essa torrente de insanidade cósmica, aceitando que a própria falta de lógica é a essência da obra.
Em última análise, "O Guia do Mochileiro das Galáxias" é um filme que divide opiniões. Se você aprecia o humor nonsense, a quebra da quarta parede e uma narrativa que desafia a lógica tradicional, provavelmente encontrará prazer nesta adaptação visualmente inventiva e com um elenco carismático. No entanto, se você busca uma trama coesa e com um desenvolvimento claro de personagens e eventos, poderá se sentir perdido e frustrado pela natureza episódica e digressiva da narrativa. Se a ideia de uma jornada cósmica sem muito sentido, mas com visuais criativos e personagens excêntricos o atrai, então pegue sua toalha e embarque nessa aventura. Caso contrário, talvez seja melhor consultar o Guia para encontrar outra forma de entretenimento.
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