O Conto da Aia Resenha
- Vinicius Monteiro
- 21 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de jan.

★★★★☆
O romance distópico se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa, por exemplo, basta cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes.
'O Conto da Aia' fará com que os leitores o amem e ao mesmo tempo o odeiem. Houve trechos da história que doíam de ler, me forçando a imaginar cenas desconfortáveis. A obra parece cada vez mais vital nos dias atuais, onde mulheres em muitas partes do mundo vivem vidas semelhantes, ditadas pelo determinismo biológico e pela misoginia.
Político e sombrio, mas espirituoso e sábio, a obra ganhou o prêmio Arthur C Clarke em 1987. 'O Conto da Aia' é sempre comentado entre os romances de distopia e ficção científica, o que eu discordo um pouco. Nada praticado na República de Gileade é genuinamente futurista e a obra não contém qualquer personalidade para ser considerada uma distopia. Concordo com a autora quando ela diz que o livro é meio inclassificável.
Há uma sensação de horror presente na obra que não só se limita apenas em suas personagens mulheres e a falta de independência que as cobrem, mas também nos homens que têm poder quase total em sua sociedade.
A autora Margaret Atwood tem uma habilidade maravilhosa de fazer uma realidade distante parecer real. Eu acredito que qualquer leitor, assim como eu, podem ver e sentir o mundo de Offred e transformar sua visão sobre a sociedade real em que vivem, mas esse foi um problema na leitura desse livro, a todo momento eu estava saindo de seu universo para o meu estado real, talvez pelo fato da escrita ser pouco descritiva.
A caracterização desse universo em geral é fraca em 'O Conto da Aia'. Tirando as personagens mulheres, não consigo distinguir Luke, o marido, de Nick, o amante que pode ser um Eye (espião do governo). Nem o Comandante é um personagem fortemente atraente.
'O Conto da Aia' é curto e fica lento em sua metade, com o propósito de fornecer contexto para a outra metade que leva o leitor a avançar ao final do livro, mas ainda sim, a obra deixará os leitores incapazes de largar o livro.
'O Conto da Aia' foi adaptado em um programa de TV do Hulu chamado 'The Handmaid's Tale'. Para aqueles que são menos inclinados à leitura ou gostam de emparelhar seus livros com filmes e séries, o aviso é bem vindo.
Esse é um livro que faz o leitor se encolher enquanto lê, mas o obriga a continuar lendo. Com uma atmosfera entorpecente que provocará seu pensamento, Margaret Atwood entrega uma escrita brilhante, alguns personagens muito bem desenvolvidos e outros nem tanto, dentro de um mundo e universo sem personalidade que carece um pouco de imaginação. Se você quer ser atingido por uma a percepção de problemas reais enfrentados por mulheres reais, leia esta história.
Kommentarer