Aprendiz de Espiã Vale a Pena Assistir?
- Vinicius Monteiro
- 8 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Imagine a improvável dupla: um agente da CIA com a carranca de um rinoceronte e uma garotinha de nove anos com a astúcia de um mestre espião. Essa é a premissa de "Aprendiz de Espiã", um filme que tenta equilibrar a ação com a comédia familiar. Mas será que essa fórmula desgastada ainda tem fôlego para nos surpreender, ou é apenas mais um clichê requentado para um público desatento?
"Aprendiz de Espiã" nos apresenta a um agente da CIA (Dave Bautista), um sujeito com a aparência de quem não sorri há décadas, designado para vigiar secretamente uma família. O plano, porém, sofre um revés hilário quando ele é repetidamente pego de calças curtas pelas artimanhas de Sophie (Chloe Coleman), a esperta e precoce filha de nove anos da família em questão.
A fórmula de emparelhar um grandalhão de ação com uma criança adorável e inteligente não é novidade em Hollywood. É um tropo que remonta aos anos 90 e que, inexplicavelmente, continua a render frutos. "Aprendiz de Espiã" surge como mais um exemplar dessa linhagem, provando que, apesar da familiaridade, essa dinâmica ainda possui um certo apelo.
Apesar de uma sequência de abertura que flerta com um tom mais sério, a alma deste filme reside inequivocamente na comédia. Sob a batuta de Peter Segal, a missão cinematográfica parece ser satirizar os clichês do gênero de espionagem, ironicamente abraçando-os em sua estrutura fundamental. Contudo, é crucial não se deixar enganar pela leveza do humor, pois Segal também demonstra competência nas sequências de ação, ainda que estas não sejam o foco principal.
O problema é que a comédia, em vez de nos presentear com um riso inteligente e autodepreciativo, frequentemente descamba para uma zombaria simplista dos próprios clichês que utiliza. Essa abordagem, longe de gerar gargalhadas genuínas, serve apenas como uma distração superficial para quem não busca um envolvimento mais profundo com a narrativa. Em momentos isolados, o humor físico e exagerado acerta o alvo, proporcionando alguns sorrisos.
"Aprendiz de Espiã" também tropeça em subtramas mal desenvolvidas, como a dos antagonistas russos caricatos ou a do casal homossexual cuja representação parece ter sido diretamente importada de uma sitcom dos anos 90, destoando do restante da narrativa. Essas adições superficiais apenas incham o filme sem agregar valor real à trama principal.
O verdadeiro brilho da produção reside na inegável química entre Dave Bautista e Chloe Coleman. Ambos os atores transcendem as limitações do material original, infundindo seus respectivos papéis com uma profundidade surpreendente. Bautista confere ao seu agente corpulento uma vulnerabilidade inesperada, enquanto Coleman dota Sophie de uma sabedoria precoce que, para nossa surpresa, nunca soa artificial ou excessivamente esperta. Essa dinâmica genuína entre os protagonistas é o que realmente sustenta o filme.
Em sua maior parte, "Aprendiz de Espiã" se revela um filme familiar, previsível, com nuances um tanto antiquadas e desprovido de grande inventividade. A mistura de comédia, ação e elementos românticos nem sempre se encaixa de forma harmoniosa. No entanto, o filme consegue entreter, em grande parte devido ao carisma inegável de seu elenco principal que, com seu talento, eleva um material que, em outras mãos, poderia ter se tornado facilmente esquecível.
Em última análise, "Aprendiz de Espiã" não é um filme que revolucionará o gênero ou deixará uma marca duradoura. É uma produção familiar mediana que se sustenta principalmente no charme e na química de Dave Bautista e Chloe Coleman. Se você busca um entretenimento leve e despretensioso para passar o tempo, sem esperar reviravoltas surpreendentes ou uma narrativa profunda, o filme pode valer a pena pela dinâmica divertida entre os protagonistas. No entanto, se você procura uma comédia de ação mais inteligente, com subtramas bem desenvolvidas e uma abordagem fresca do gênero, é provável que "Aprendiz de Espiã" o deixe com uma sensação de déjà vu e uma leve decepção.
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