A Vida, o Universo e Tudo Mais Vale a Pena Ler?
- Vinicius Monteiro
- 11 de jan. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: há 1 dia
Se você, assim como eu, se encantou com a genialidade insana e o humor afiado dos dois primeiros volumes de "O Guia do Mochileiro das Galáxias", prepare-se para uma confissão honesta. A jornada rumo à derradeira resposta e a fuga alucinada dos Vogons nos deixaram ansiosos por mais, certo? Pois bem, ao embarcar na leitura de "A Vida, o Universo e Tudo Mais", senti como se a nave espacial que tanto amamos tivesse perdido um pouco do seu brilho e da sua rota. A coesão estrutural que nos guiava parece ter se dissipado, e a profusão de aventuras que nos mantinha vidrados cedeu espaço a algo... diferente.
Após serem catapultados para a monótona existência da Terra pré-histórica, acompanhamos um Arthur Dent à beira da resignação, contemplando a loucura como um escape derradeiro. É nesse limbo que Ford Prefect ressurge, também ele preso em um ciclo de mesmice, oferecendo uma fuga tão bizarra quanto a própria saga: uma corrente espaço-temporal acessível através de um sofá. Essa premissa, embora tipicamente "Guia do Mochileiro", não consegue, ao meu ver, reacender a mesma faísca dos inícios.
Confesso que "A Vida, o Universo e Tudo Mais" se mostrou o volume mais desafiador até agora. Não que a leitura seja intrinsecamente enfadonha, mas inegavelmente falta aquela vivacidade e aquele charme que nos fisgaram nos primeiros livros. A narrativa assume um tom mais denso, mais carregado de uma crítica social que, embora pertinente, se manifesta de forma mais sutil, quase velada.
Douglas Adams nos havia acostumado a um humor satírico cortante e a reviravoltas narrativas deliciosamente absurdas. Havia em mim, portanto, uma expectativa por uma progressão ainda mais engenhosa, por um mergulho ainda mais profundo no nonsense cósmico. Talvez essa expectativa tenha sido meu erro, pois este terceiro volume apresenta um ritmo mais lento, um humor que parece estar em ponto morto, esperando para ser reativado.
As críticas centrais da trama focam em temas como a xenofobia, o racismo e a intolerância, conferindo à obra uma inegável relevância social. Contudo, a maior frequência de saltos espaço-temporais, um recurso narrativo que se torna mais proeminente neste volume, gerou em mim, particularmente, uma sensação de irritação e confusão em alguns momentos. Reconheço a subjetividade dessa experiência, influenciada pela minha menor afinidade com o gênero da ficção científica pura, o que naturalmente pode tornar a imersão na narrativa mais árdua.
Em suma, e com toda a sinceridade, "A Vida, o Universo e Tudo Mais" representou uma leve decepção na minha jornada pela saga. Apesar de reconhecer o valor das críticas sociais inteligentemente tecidas na trama, a magia e o ritmo dos primeiros volumes parecem ter se perdido um pouco no caminho. A questão crucial, então, é: vale a pena ler? Sim, mas com ressalvas. Se você é um fã incondicional da série e precisa completar a jornada, siga em frente. Há lampejos do humor característico de Adams e a trama, apesar de menos envolvente, ainda contribui para a tapeçaria geral da saga. No entanto, prepare-se para um ritmo mais lento e uma experiência que pode não alcançar o brilho dos seus antecessores. Para aqueles que estão apenas começando, talvez seja importante ajustar as expectativas ao chegar a este volume.
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